domingo, 22 de abril de 2012

O plano de voo da Oi

La Fonte, da família Jereissati, e pela Portugal Telecom (PT). Desde 2010, a receita da Oi não cresce e a operadora assiste a sua participação erodir em todas as principais áreas de atuação. Resultado: seu valor de mercado, de R$ 18 bilhões, representa atualmente menos de um terço do da Vivo, da Telefônica, comandada por Antônio Carlos Valente. A Oi, no entanto, parece estar disposta a recuperar o tempo perdido. Mais do que disposta, precisa desesperadamente assumir a iniciativa. Na terça-feira 17, a supertele, fruto da fusão da Telemar com a Brasil Telecom, concretizada com as bênçãos do governo federal, apresentou ao mercado o seu plano para voltar a crescer. A meta é investir R$ 24 bilhões até 2015, valor semelhante ao de seus concorrentes.

A companhia quer também passar de 70 milhões de consumidores de seus serviços para 107 milhões nos próximos quatro anos. Nesse período, a intenção é distribuir R$ 8 bilhões em dividendos aos acionistas, desde que cumpridas determinadas condições – a principal delas é que o nível de endividamento não ultrapasse em três vezes a geração de caixa. A Oi também decidiu se desfazer de ativos não estratégicos, como o portal iG, vendido para o grupo português OnGoing, sócio da PT, na semana passada. Desde o anúncio do novo planejamento, as ações ordinárias subiram 5% até a quinta-feira 19. As preferenciais elevaram-se 8,5%. “Meu maior desafio é mostrar para o mercado que a Oi pode”, disse o gaúcho Francisco Valim, presidente da operadora, em entrevista exclusiva à DINHEIRO (leia mais ao final da reportagem). “Os objetivos que estamos propondo não são simples ou fáceis, mas são factíveis.”

A partir de agora, a Oi estará sob o escrutínio e os olhares atentos do mercado, que cobrará da companhia o cumprimento das metas estabelecidas. O primeiro teste acontecerá em 15 de maio, quando a operadora divulgará os resultados do primeiro trimestre de 2012. “É crucial que estejamos em linha com o plano”, afirma Valim. Para não decepcionar o mercado, o executivo terá de estancar a perda de clientes na telefonia fixa, responsável ainda por 50% da receita da Oi. Além disso, precisa fazer com que os outros serviços, como celular, banda larga e tevê por assinatura, cresçam a uma velocidade maior. Sua estratégia não será diferente da de seus principais rivais: a oferta de pacotes convergentes, na busca de vender uma gama maior de produtos ao mesmo consumidor. “O plano é consistente, com uma lógica por trás”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco. “O ponto fraco é a banda larga.”

Na visão do consultor, o jogo em telecomunicações está sendo definido por quem tem internet em alta velocidade, a exemplo da francesa GVT e da NET, que pertence aos mexicanos da América Móvil. O plano da Oi envolve passar fibra óptica por 2,4 milhões de residências até 2015. Em 2012, o objetivo é que 40% dos clientes tenham conexões web com velocidades superiores a 5 Mbps (megabits por segundo). Trata-se de um avanço, mas é ainda muito pouco. Na GVT, 75% dos acessos em banda larga fixa possuem velocidade superior ou igual a 10 Mbps. Por conta disso, o crescimento da Oi nessa área foi de apenas 12,7%, abaixo da média do mercado brasileiro, que se expandiu 19,6%, em 2011. Desde que assumiu a presidência da companhia, em agosto de 2011, vindo de uma temporada em Londres, onde comandou as operações da Serasa Experian para a Europa, Oriente Médio, África e América Latina, Valim vem imprimindo seu estilo de gestão.

Uma de suas primeiras medidas foi a retomada, pela empresa, do subsídio de celulares, prática não adotada pelo seu antecessor, o executivo de Luiz Eduardo Falco. Na semana passada, Valim pôde comemorar o resultado dessa ação. A Oi foi a empresa que mais conquistou clientes em pós-pagos em março, à frente da Vivo. Foram 270 mil novos assinantes, contra 247 mil da rival, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações. Seu principal feito, contudo, foi conseguir aprovar a simplificação societária em fevereiro deste ano, após três tentativas frustradas. Com isso, em vez de sete ações sendo vendidas na bolsa de valores, a companhia passou a ter apenas duas. “Antes, só os abnegados compravam nossos papéis”, brinca Valim.

Essa medida deve gerar sinergias de R$ 100 milhões por ano. O desafio de Valim, agora, é fazer com que o plano saia do papel. “Ele tem de provar que a Oi será capaz de executar esse projeto”, afirma Juarez Quadros, ex-ministro das Comunicações e sócio da consultoria Orion. Ou nas palavras de outro consultor, que prefere não se identificar. “Será que a Oi combinou com os russos?”, diz, lembrando-se de um episódio envolvendo o jogador Garrincha, na Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Após ouvir as instruções do técnico Vicente Feola, o atacante questionou se o treinador havia acertado a tática com o adversário, a Rússia. Os russos, no caso, são Vivo, TIM e América Móvil, dona da Embratel, Claro e NET. Não é preciso ser vidente para saber que as três vão fazer de tudo para atrapalhar os planos da Oi.

O presidente da Oi, Francisco Valim, concedeu  entrevista exclusiva à DINHEIRO. Leia os principais trechos:

Qual o seu principal desafio à frente da Oi?É mostrar para o mercado que a Oi pode. Hoje, há um ceticismo generalizado. Todos os relatórios apontam nessa direção. Os objetivos que estamos propondo não são simples ou fáceis, mas são factíveis.

Com o novo plano de investimento, o objetivo é voltar à liderança?Não estabelecemos o objetivo de ser a primeira, mas sim a preferida dos nossos clientes. E, se conseguirmos isso consistentemente, poderemos voltar a ser uma das primeiras empresas de telecomunicações. Veja o que aconteceu com o Bradesco e com o Itaú. Num determinado dia, o Itaú comprou o Unibanco. O Bradesco perdeu seu objetivo de vida? Não queremos entrar nessa discussão.

A Oi errou em não subsidiar celulares?No passado não foi uma decisão errada. Mas o mercado mudou, em razão dos smartphones, e a Oi precisava ter evoluído junto.

Fonte: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/81832_O+PLANO+DE+VOO+DA+OI


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